29/01/2010
Papagaio O Juiz e o Caso do Papagaio
Da Redação Escola Mundo Azul
Corria o ano de 1988. No programa de rádio do Juiz Abel Balbino Guimarães, levado ao ar todas as quartas-feiras, das 8:30 às 9:00, pela Rádio Sul Matogrossense de Poxoréo, chega uma carta de uma ouvinte dizendo ser nascida e criada em Poxoréo e que há quatro meses atrás aconteceu uma tragédia na sua vida, seu papagaio tinha sido furtado.
Aquela senhora de nome Ana narrou em minúcias como se apossara da ave, ainda pequenina, caída do ninho de um dos morros na região de Jarudore, distrito de Poxoréo. Todo o zelo e carinho com que fora criado e como aprendera a falar e cantar músicas. Era a principal diversão da família, já que eram evangélicos e não tinha TV em casa.
Finalizava dizendo que hoje seu papagaio estava com quatro anos e seis meses, e que estava “preso” na Delegacia Municipal de Polícia Judiciária Civil de Primavera do Leste – MT. Ela dizia que por meio de informações ter encontrado o papagaio na casa de uma senhora por nome Ermíria, em Primavera do Leste – MT, mas que não teve acordo, pois, Ermíria dizia ter um papagaio de uns dez anos e que fora furtado e que ela conseguiu ele de volta comprando-o na feira, e que o reconhecera. E dona Ana, angustiada, indagava: como faço para falar pessoalmente com o senhor? O senhor me atende sobre essa causa do papagaio? O que faço? Será que meu problema tem solução?
Lida a carta na rádio, dona Ana foi informada que procurasse o Juizado Especial de Poxoréo para anotar sua reclamação, pois, aquela carta estaria esperando por Ela.
Naquele mesmo dia Ela compareceu no Juizado e anotou sua reclamação. Ao despachar a inicial o juiz Abel determinou que intimasse a reclamada, senhora Ermíria, para a audiência de conciliação e, também, que solicitasse a autoridade policial que trouxesse o tal papagaio, tendo esta atendido prontamente.
A audiência de conciliação foi instaurada às 13:00, e foi recomendado ao senhor conciliador, especial cuidado a esse caso, pois, pressentiu-se a dificuldade. O juiz Abel estava presidindo uma sessão do Tribunal do Júri. Lá pelas 16:00, no intervalo para o lanche, o conciliador aproximou-se dizendo que tinha feito de tudo, mas que não tinha jeito, aquelas senhoras teimavam, cada uma por si, em se arrogarem donas do papagaio.
Então, o juiz Abel, matutando numa solução, as chamara ao seu gabinete. Ali, sentado em sua cadeira, pediu que o papagaio fosse colocado bem no meio da mesa, e que as senhoras ficassem distantes, uma de cada lado, próximas da parede. Continuou a pensar, e foi logo dizendo ser entendido em estórias e casos de papagaio, - só Ele sabe se isso é verdade. Mas, como foi nascido e criado na zona rural, não se pode duvidar.
Deixando todos ali bem a vontade, foi fazendo perguntas, às quais pareciam ser amenas, porém, todas muito importantes. Indagou para cada uma das partes a idade do papagaio, como o criara, se o papagaio sabia falar, quais palavras eram mais comuns em seu repertório, se sabia alguma música e quais músicas eram mais cantadas pela ave.
O certo é que a coisa estava difícil, tudo que dona Ana fazia com o papagaio, dona Ermíria também fazia. Quando o juiz Abel já estava ficando aperreado, quase sem saber o que fazer, eis que dona Ana lembrou-se de uma música e foi dizendo: “senhor juiz, tem uma música que eu cantava e dançava junto com Ele e, o papagaio adorava, acho que é porque ele não gostava do cão que latia muito”.
Em seguida, dona Ana pegou o papagaio no dedo e pôs no ombro esquerdo, começou a sacudir-se, imitando uma dança, e deu inicio a cantarolar, sendo seguida pela ave. Agora, ambos cantavam como se fossem parceiros de longa data, uma antiga música que fora sucesso no início da década de 70, cujo refrão dizia: “Eu não sou cachorro não”. Percebeu-se que o papagaio mudara de comportamento, era como se tivesse lembrado de algo, de sua antiga dona. Dito e feito, o papagaio foi devolvido ao centro da mesa onde, novamente, ficou quieto como a esperar o desenrolar dos fatos.
O desfecho do caso foi contundente. Dona Ermíria aproximou-se da ave querendo pegá-la no dedo, como fizera antes, mas não foi atendida, em resposta recebera uma bicada. Ela prosseguiu de todas as formas, tentando convencer o papagaio a ir com Ela, mas não conseguiu. Em seguida, foi a vez de dona Ana, a qual ao aproximar-se da mesa, o papagaio viera correndo para seu lado, subira no dedo, e fazia gestos como a querer empoleirar-se no seu ombro. Enfim, demonstrava não querer se apartar mais de dona Ana. Colocado novamente no centro da mesa, as duas contendentes distantes, mandou-se que se aproximassem e chamassem a ave. Dona Ermíria fez de tudo, porém, o papagaio nem lhe dera atenção, correra ao encontro do dedo de dona Ana.
Assim, todos os presentes notaram que o papagaio tinha reencontrado sua verdadeira dona. A própria dona Ermíria reconhecera dona Ana como vencedora da demanda, e até a parabenizou. O juiz Abel mandou que se constasse tudo no termo de audiência, ainda observando que se tratava de uma ave nova, com menos de cinco anos de idade. E que encaminhasse dona Ana à repartição ambiental aonde viera a obter autorização para tutela da ave, já que estava domesticado e adaptado a vida do lar.
Fonte: http://www.escolamundoazul.org.br/
Escrito por autor acima[poxoreo@uol.com.br às 18:25
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(*) Visitando o Blog Poxoréo, cidade do mesmo nome em Mato Grosso, onde iniciei carreira no Banco do Brasil, gostei e postei com as devidas informações da origem.